Miradores

21 julho, 2010

*nau depredada*

É noite... No horizonte há um barquinho ancorado, luzes acesas, nenhum movimento.
Água passa languidamente por sua volta, em toda parte.

No céu poucas estrelas me vêm olhar...
Testemunhas únicas da lágrima solitária que desce, vincando minha face. Escrevendo no rastro de sua queda toda a curva da muda dor que guilhotina minha alma: a silenciar esperanças, sufocar alegrias, matar sonhos; decompondo minha existência, asseverando eu ser nada...

Já não me encontro, perdi-me no escuro bosque do arrependimento.
Embrenhei-me nas profundas florestas da saudade!
Atirei minha vida por inteiro, do alto precipício, no labirinto inescapável do amar-te!
Nada possui cor, aroma ou sabor. E pelas paredes vítreas do labirinto observo sem ser visto - sequer sentido - a todas as gentes que proscrevem minha presença, antepondo suas traves confortáveis para, assim, negar-me às suas vistas!

Sem jamais tocar as paredes...

Mantemos-nos assim: ignorantes e ignorado; em precário equilíbrio sem que aqueles nunca busquem compreender a este; que tenta - em desespero - reunir-se ao único ente que já amou.
Tendo minha angústia alimentada pela recusa deste em aceitar-me de volta como amante!!

Todavia posto-me à sua espera, aguardando qualquer oportunidade de ser-lhe próximo, esperando por coisa qualquer em que possa-lhe ser útil!
É nestes brevíssimos momentos que o bosque clareia, a floresta rasa, acho fuga do labirinto e sei-me feliz!!
Para somente assim poder sorrir ao Sol que nasce, ao invés de dele esconder-me...
O sol surge no horizonte, o céu veste seu manto carmim-ciano-branco, a manhã me traz esperança, agarro-me às lembranças; que são preciosidades que ainda me alentam...

E quando partires para outras venturas, me restará a lembrança de teu sabor adocicado, tua pele aveludada, teu opíparo olor!
Te vais e nada fica, a não ser a mágoa da contagem regressiva; pois agora é um dia a menos que possuímos.
Subtraindo-se de minha vida como a areia que cai em uma ampulheta. Brutalizo minhalma em busca de qualquer insensibilidade, qualquer ilusão... Nunca logrando vitória!!

E a vivência ôca de todas as coisas mortas será a única guia da pérfida lágrima que entalhará em meus olhos o brilho vazio da desesperança!
Deste olho cego a vislumbrar um navio derivando, sem poder compreender que aquela nau perdida e eu somos a mesma e única coisa: apenas esperando pelo momento libertatório de ir a pique e descançar no seio das planícies oceânicas.



frankj. kosta

Nenhum comentário:

Postar um comentário