06 fevereiro, 2015
Numa mesa, sob o quebra-luz...
Não deveria ser; mas tem momentos que a solidão é tão acolhedora...
Sento a um canto, acendo um cigarro, enquanto vejo a fumaça que ascende lembro da tua voz -plena de sorriso- dizendo com aquele tom jocoso de quem lê piadas numa revista.
— O amor é famélico, nunca contentando-se com migalhas.
Sinto o lábio se arqueando num parco sorriso; desses risos indecisos entre amarelo e saudoso, e penso com meus botões:
“É idiotice, eu sei. Mas fazer o quê? Sinto tua falta. Tem vezes que eu queria que o tempo voltasse, só pra tentar fazer certo, desta vez.”.
Trago o cigarro e tento fazer aquelas rosquinhas de fumaça que já vi em tantos filmes noir, tantas vezes a teu lado. E, de novo, só consigo aquela nuvem amorfa: nenhuma rodela, nem rosquinhas, nem coisa alguma. Meu sorriso fica mais largo, agora eu rindo da minha estupidez.
Jamais consegui fazer uma sequer, ao longo da última década, e sinceramente nem sei porque ainda insisto...
Pego outro cigarro, e fico me encarando no reflexo da minha cigarreira de aço polido; tal qual um espelho.
"Talvez eu me sinta incapaz de fazer alguém feliz.". Penso me olhando no reflexo pálido.
"Porquê?" Lembro de te ter perguntado, certa vez, numa sorveteria; e você respondeu:
— Porque me dá um medo desgraçador disso tudo: ser feliz, amar... medo de ser bom. Medo de gostar. Eu tenho esse medo; de que tudo que nos faz bem, temos medo.
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